Enquanto eu viver,
A D. Ivone não vou esquecer!
Num quarto de hospital
Uma velhinha sofria.
Eu, ali, na outra cama,
Ouvia e ajudava quanto podia…
“Não tenho ninguém,
Que me possa fazer bem…”
Uma queda desastrada,
Colo do fémur partido…
Era a velhinha operada
Com tudo, tudo, dorido…
“Ai, vou morrer… vou morrer…
Assim não posso viver…”
“Que há de ser de mim, assim?
Sozinha… e sem andar…
Tenho um cansaço sem fim,
Sem ninguém p´ra me ajudar…”
O filho, já idoso e rude,
Ora a beijava e acarinhava,
Ora ralhava e implicava:
“Coma mais, vá… beba mais,
Não pense nisso, não se pode ralar…”
…E a velhinha a pensar…
a pensar
A assistente social,
Na missão de a visitar,
Veio oferecer-lhe uma flor,
Flor de Esperança, flor de Amor…
Geribéria de encantar!
Mas a velhinha sofrida,
Já tão distante da vida,
Não podia acreditar…
Quando a visita saiu,
A velhinha sorriu,
E disse: “É para si o malmiquer.”
- “Não… não… faz-lhe companhia.”
E ela sorria e dizia: “Não o quer?”
Trouxe comigo a flor,
Que bonita, tanta cor!
Numa jarra, na sala de jantar,
Parecia estar a brilhar!
Tão viçosa! Tão airosa!
O tempo a passar…
E ela sem murchar!
Dias depois, quando a fui visitar…
A velhinha já não era, no seu lugar…
Disseram-me que embarcou
No barco da eternidade!
O barco, com asas, voou,
E assim ela passou…
Deixando, em mim, saudade…
O “malmiquer”, na sala de jantar,
Continuou a brilhar!
A velhinha lá no céu não morreu…
No meu coração… renasceu!
Sem comentários:
Enviar um comentário