sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A Velhinha e o "Malmiquer"


Enquanto eu viver,

A D. Ivone não vou esquecer!



Num quarto de hospital

Uma velhinha sofria.

Eu, ali, na outra cama,

Ouvia e ajudava quanto podia…



“Não tenho ninguém,

Que me possa fazer bem…”



Uma queda desastrada,

 Colo do fémur partido…

Era a velhinha operada

Com tudo, tudo, dorido…



“Ai, vou morrer… vou morrer…

Assim não posso viver…”



“Que há de ser de mim, assim?

Sozinha… e sem andar…

Tenho um cansaço sem fim,

Sem ninguém p´ra me ajudar…”



O filho, já idoso e rude,

Ora a beijava e acarinhava,

Ora ralhava e implicava:

“Coma mais, vá… beba mais,

Não pense nisso, não se pode ralar…”

…E a velhinha a pensar… a pensar



A assistente social,

Na missão de a visitar,

Veio oferecer-lhe uma flor,

Flor de Esperança, flor de Amor…

Geribéria de encantar!

Mas a velhinha sofrida,

Já tão distante da vida,

Não podia acreditar…



Quando a visita saiu,

A  velhinha sorriu,

E disse: “É para si o malmiquer.”

- “Não… não… faz-lhe companhia.”

E ela sorria e dizia: “Não o quer?”



Trouxe comigo a flor,

Que bonita, tanta cor!

Numa jarra, na sala de jantar,

Parecia estar a brilhar!

Tão viçosa! Tão airosa!

O tempo a passar…

E  ela sem murchar!



Dias depois, quando a fui visitar…

A velhinha já não era, no seu lugar…



Disseram-me que embarcou

No barco da eternidade!

O barco, com asas, voou,

E assim ela passou…

Deixando, em mim, saudade…



O “malmiquer”,  na sala de jantar,

Continuou a brilhar!

A velhinha lá no céu não morreu…

No meu coração… renasceu!






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