sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Reflexões para a Liliana


Você não manda em mim, nem ninguém manda em mim”



   Ouvi, há dias, numa aula, esta frase.  Era duma aluna para a Professora.

   Fez-me pensar ... O que significa isto ?... Que importância tem no nosso relacionamento, nas nossas vidas ?

   É uma maneira de comunicar.

   Comunicar é transmitir. Comunicar é propagar, é contagiar. Comunicar é ter passagem para ... Comunicar é entrar em relação com ...

   O que transmitiu esta aluna à professora a quem se dirigiu ?

   O que propagou entre os colegas ?

   Terá aberto passagem para um conflito ?

   Se tudo assim continuar como será a relação da jovem com a pessoa mais velha

que deve transmitir-lhe conhecimentos, experiências. E, não só, também amizade,

carinho, compreensão ...





Esta Aluna fazia anos neste dia.



   A professora, que fui eu, ficou com vontade de lhe dar os parabéns, mas ... a comunicação tinha falhado ... a professora limitou-se a pôr a aluna na rua.



            Saí da aula irritada. Fiz uma participação à Diretora de Turma.

            Vim para casa e a Liliana não me saía do pensamento, ainda por cima fazia

 anos...

            Se calhar ela não quiz dizer o que disse ...

            Se calhar ela não percebeu porque é que eu insisto tanto para que se portem bem,

porque é que eu quero que estejam atentos na aula de Matemática. Não tenho

nenhum interesse pessoal nisso, estou quase no fim da minha carreira, já dei todas as  provas que devia dar. Até seria mais fácil para mim ..., deixar correr, não me incomodar.



   Mas a verdade é que eu sou Amiga da Liliana, de todas as “Lilianas” e de todos os “Lilianos” que têm passado por mim ao longo da minha vida.

   Gostava de poder transmitir-lhes alguns conhecimentos de Matemática e muito mais do que isso. Gostava  que aprendessem agora, durante a juventude, porque depois é muito tarde, que o relacionamento entre os seres humanos pode ser uma coisa maravilhosa mas também pode ser uma desgraça.  Quem o constroi somos todos nós,  temos de estar atentos  -  para que, através da comunicação,  possamos construir um bom relacionamento.



   A escola é o lugar ideal para treinar. Somos muitos, somos diferentes: alunos, professores, funcionários,  Pais (que também por cá vêm). Começando pela comunicação escolar, treinamos a comunicação social. Parece que não há nada mais importante do que a comunicação social nos dias que correm.



   Há barulho demais na Escola. Assim não dá para comunicarmos uns com outros, com calma, sem agressividade, sem atropelos, com alegria.

Se nós pudéssemos fazer alguma coisa para melhorar este ambiente ...





E, para acabar, Liliana, quero dar-te um beijinho muito grande de parabéns.



           





            Escola E. B. 2,3  Avelar Brotero,  19  de  Novembro  de 2004





                                              



                                                           A tua Professora de Matemática                   

Natal de 2013


Natal!... Natal!…

É dia de Natal!

Jesus, Maria e José,

Lá longe… no tempo…

Nos começos da Idade…

Eis o admirável exemplo

De Paz e Fraternidade:

Num casebre abandonado,

Cheio de frio e de vento,

Têm só por companhia

Uma vaquinha e um jumento



Nós, os privilegiados,

Temos, sem o merecer,

Mil cozidos e assados

Na lareira um fogo a arder

À nossa volta a  família…

Presentes, fitas prateadas,

Luzes e bolas douradas.

E lá fora, na aldeia,

Todos a confraternizar,

A Igreja está cheia

O Menino vamos beijar!



E o Natal era assim…

Eu bem me lembro

Dentro de mim!...



E quem não tem ninguém?

Nada para comer…

Nem mantas, nem abrigos,

Para se aquecer…

Sem saúde e sem amigos,

Ou  na cama do hospital…

Mesmo em dia de Natal!



Há tantos, tantos assim!...

E eu?  

Nem dou bem por mim…



Guerras, ventos, enxurradas,

Casas alagadas,

Terra toda destruída…

Sem Pais, irmãos… sem vida…



E eu? …

Fico assim …

Ao passar tudo por mim…



Bem-haja SENHOR,

Bem-haja…

Por este nosso Natal
        Cheio de PAZ e de AMOR

Anjos da Minha Igreja


Na Igreja da minha Terra

Há anjinhos no altar

São tantos os anjinhos

Ai! Quem mos dera contar…



Dois e dois mais dois

Seis são.

E mais seis uma dúzia

Então.

E três quinze e três dezoito,

Dezanove,  vinte e um.

E um e outro e mais algum…



Quando eu era pequenina

Gostava de imaginar:

De noite, pela calada,

Desciam  em revoada

Os anjinhos do altar!

Um, que era mais atrevido,

No Sacrário ia pousar,

O Menino Jesus espreitava

E que contente ficava,

Com os anjos ia brincar!



Um dia, devagarinho,

E sem ninguém o saber,

Levei uma bola p´ra Igreja,

Deixei-a lá num cantinho

P´ros anjos  poderem ver…



Na noite, então, desse dia,

Na minha cama, eu dormia,

Sonhei. Vi os anjos a jogar:

Duas equipas em campo,

O Menino  a rematar!

Um anjo, na baliza, defendia,

Outro com a bola fugia,

Eu, entusiasmada, aplaudia!

O Menino um golo metia!

Goooo…lo! Goooo…lo!

Que alegria!



Pela manhã, a correr,

Fui à Igreja p´ra ver:

Os anjos lá estavam,

Cada um no seu lugar,

A bola no mesmo canto

Sem dali nunca arredar.



Mas eu sabia…

(O segredo era só meu),

Que os anjos à porfia

Com o Menino Deus

Na Igreja, em Nelas, brincavam

Como brincavam nos céus!






Da Minha Janela...


Da minha janela eu vejo

Lisboa a despertar...

Se há Sol como desejo...

Até o mar vejo,

 A brilhar!



Às vezes há nevoeiro...

E já não vejo…

O Sol a brilhar

E Lisboa a despertar…



É assim dentro de mim…



Meu coração a sangrar

De tanto amar…

Os Filhos a partir…

Sabe-se lá para onde vão

E se voltam… ou não…



Doenças e dores…

De todas as cores…

Cá se vão amparando

E devagar… vão andando…



Quando há nevoeiro

Está tudo a rabujar…

Até o pouco dinheiro

E as contas para pagar…



Mas se o sol está a brilhar!

E Lisboa a despertar,

Até vejo o mar!...



Dentro de mim… É um festim!



A janela do meu peito

Abre-se de par em par…

O coração, a seu jeito,

Derrete-se de tanto amar!



Que alegria!

Filhos e netos à porfia

Todos a cantar

E eu a sonhar!...                                                      






A Velhinha e o "Malmiquer"


Enquanto eu viver,

A D. Ivone não vou esquecer!



Num quarto de hospital

Uma velhinha sofria.

Eu, ali, na outra cama,

Ouvia e ajudava quanto podia…



“Não tenho ninguém,

Que me possa fazer bem…”



Uma queda desastrada,

 Colo do fémur partido…

Era a velhinha operada

Com tudo, tudo, dorido…



“Ai, vou morrer… vou morrer…

Assim não posso viver…”



“Que há de ser de mim, assim?

Sozinha… e sem andar…

Tenho um cansaço sem fim,

Sem ninguém p´ra me ajudar…”



O filho, já idoso e rude,

Ora a beijava e acarinhava,

Ora ralhava e implicava:

“Coma mais, vá… beba mais,

Não pense nisso, não se pode ralar…”

…E a velhinha a pensar… a pensar



A assistente social,

Na missão de a visitar,

Veio oferecer-lhe uma flor,

Flor de Esperança, flor de Amor…

Geribéria de encantar!

Mas a velhinha sofrida,

Já tão distante da vida,

Não podia acreditar…



Quando a visita saiu,

A  velhinha sorriu,

E disse: “É para si o malmiquer.”

- “Não… não… faz-lhe companhia.”

E ela sorria e dizia: “Não o quer?”



Trouxe comigo a flor,

Que bonita, tanta cor!

Numa jarra, na sala de jantar,

Parecia estar a brilhar!

Tão viçosa! Tão airosa!

O tempo a passar…

E  ela sem murchar!



Dias depois, quando a fui visitar…

A velhinha já não era, no seu lugar…



Disseram-me que embarcou

No barco da eternidade!

O barco, com asas, voou,

E assim ela passou…

Deixando, em mim, saudade…



O “malmiquer”,  na sala de jantar,

Continuou a brilhar!

A velhinha lá no céu não morreu…

No meu coração… renasceu!






Subir Escadas

Subir escadas na Vida,
Nem sempre é uma corrida…

No começo,
As escadas são tão altas!
Sobem-se a gatinhar,
Com receio de cair
E de se magoar…

Depois,
Sobem-se as escadas a correr
Sem cuidar do que vai acontecer…

Mais adiante,
As escadas sobem-se a andar
Cada vez mais devagar…

Agora,
Subo as escadas a meditar,
Até dá para escrevinhar…

Quando já não subir escadas…
A Vida acabou,
Sobe-se ao céu numa rajada
Mais depressa que nada,
A escada terminou…
O elevador funcionou.