terça-feira, 1 de março de 2011

A Lição da minha Aluna

Dei a última lição de Matemática no Quotidiano, deste 1º semestre, na USenior de Odivelas. Foi uma bela experiência, diferente do que contava encontrar.
Comecei entusiasmada, mas um pouco intimidada. Eram alunos da terceira idade... o meu desafio era captar-lhes a atenção, desenvolver neles o gosto pela matemática, ensinar estratégias de resolução de problemas e procurar envolvê-los nessa resolução, não meramente de problemas de rotina, mas apelando à sua criatividade, ao seu espírito crítico, originalidade e capacidade de organização. Nunca tinha lidado com alunos desta faixa etária. Seriam eles ainda capazes? Teriam entusiasmo? Determinação? Vontade de fazer descobertas?
Descobri que tinham tudo isto e muito mais. Sem obrigações, só com devoções. Muito diferentes uns dos outros, com preparação diferente em matemática, com maneiras de ser diferentes (já os vou conhecendo) mas tendo em comum uma boa assiduidade (média de 2 faltas por lição), a pontualidade impecável e a colaboração muito boa, na aula e para além dela, até trazendo novos desafios.
Houve uma aluna que me marcou, logo desde o primeiro dia. Deslocava-se com dificuldade, usava uma bengala. Chegava sempre cedo. Quando eu entrava na sala, lá estava, sempre no mesmo lugar, pouco comunicativa mas com um semblante sempre sereno. Se chovia, se estava frio ou vento, vinha sempre. Em 17 aulas veio 16 vezes. Algumas vezes fui tentar ajudá-la, parecia-me que tinha algumas dificuldades. Ouvia, sem comentários, nem queixas, nem desânimos. Um dia disse-me: "A Sra. Professora escusa de se estar a incomodar, a minha cabeça já não é o que era, eu tenho dificuldade em entender, mas venho porque não quero desistir da minha luta, mesmo assim isto faz-me bem." Que grande lição me deu esta aluna! De persistência, de vontade, de serenidade, de aceitação. Nada sei da sua vida, só a conheço da aula, mas foi um exemplo, aprendi com ela!
No último dia fizemos uma magia matemática. No quadro pus um mostrador de relógio, era preciso dar umas pancadas em cima dos números que representavam as horas para, por fim, descobrir o número em que o espectador tinha pensado. O ponteiro que levava para bater nas horas ficou esquecido em casa. A minha aluna-professora, a rir, lembrou-se de emprestar a bengala... e a magia resultou bem.
Também dentro de mim a lição continuou a resultar: a bengala, símbolo do seu sofrimento, teve, por momentos outra finalidade e foi ela, a minha aluna-professora que a disponibilizou. Foi original, soube brincar e mostrou-nos que ao superar maus momentos podemos descobrir outros bons, neste caso a bela lição que nos deu.
Bem-haja, Manuela. Nunca me vou esquecer de si.