A Crise
Há três dias que andamos um bocado esquecidos da crise…
Outras notícias têm prendido a nossa atenção e a desviado deste problema que a todos toca e que prejudica quase todos.
Morreu o Saramago. Uma notícia triste, a morte é sempre triste, até mesmo nos velhinhos que parece já terem cumprido a sua missão. O Saramago cumpriu-a, ajudou a espalhar por esse mundo a língua portuguesa e parece que a dignificou pois até ganhou um prémio Nobel.
Também espalhou o seu ódio a Deus e à Igreja Católica e foi bem sucedido
pois os seus livros foram traduzidos e espalhados pelo mundo inteiro.
Começou do nada, só tardiamente se dedicou à escrita, também só tardiamente descobriu a mulher a quem amou e que o acompanhou até ao fim. Zangou-se com Portugal, foi viver para Lanzarote. Quis que as suas cinzas ficassem em Portugal, foi o regresso às origens. Terá tido um fim de vida feliz?...
Li alguns livros dele. O primeiro, ainda antes de ser conhecido, gostei muito, eram crónicas publicadas em jornais muito bem escritas. Depois, li “ Memorial do Convento” também gostei mas cansou-me aquela escrita tão seguida, tão ofegante, tão cavalgada. A “Jangada de Pedra” não consegui ler até ao fim. “Ensaio sobre a Cegueira” chocou-me, senti que ele queria mesmo chocar as pessoas para as fazer despertar para problemas importantes do nosso aqui e agora. Zanguei-me com ele e pensei que nunca mais o voltaria a ler. Afinal ainda li ”O Evangelho Segundo Jesus Cristo” era um livro tão polémico, resolvi lê-lo para poder formar a minha opinião. Forcei-me a acabá-lo, não gostei nem do livro nem da atitude do autor. Na minha opinião ele era um homem inteligente a dizer coisas nas quais não acreditava, servindo-se do seu dom da escrita para baralhar os incautos que o liam e destilar o seu ódio à Igreja Católica.
Não voltei a ler Saramago. Agora morreu… Paz à sua alma.
Hoje, a notícia que nos desviou da crise foi bem mais alegre: Campeonato do Mundo de Futebol – Portugal/Coreia do Norte. Grande goleada! Ganhámos 7 – 0! Portugal inteiro está em festa. Todos os portugueses estão em festa, aqui ou em qualquer canto do mundo. Todos festejam, todos se sentem quase campeões.
Que estranha gente somos nós, que tão depressa nos desprezamos
como nos elevamos aos píncaros do mundo? Se fossemos mais organizados e mais persistentes, com todo o entusiasmo que temos, venceríamos com certeza todas as crises.
Amanhã voltamos ao desemprego, ao aumento dos impostos, aos juros mais altos se precisarmos de dinheiro e mais baixos se o quisermos aplicar, aos empréstimos mais difíceis, à demagogia das grandes obras, às portagens das Scouts, aos produtos de primeira necessidade mais caros, ao apertar do cinto da classe média e dos portugueses mais pobres.
Valham-nos outros Saramagos e outros futebóis para nos irem amaciando as durezas da vida…
E, sofridamente vamos esperando que um dia, como dizia Camões,
“Não vos hão-de faltar, Gente famosa,
Honra, valor e fama gloriosa!”
(Lusíadas, Canto X, 74)
segunda-feira, 21 de junho de 2010
quinta-feira, 10 de junho de 2010
"Colchões Confort - Outro Sono Outro Conforto"
Quando eu era pequena não havia “Colchões Confort – Outro sono, outro conforto” (Anúncio da TSF). Havia colchões de lã ou colchões de palha, que às vezes faziam doer as costas.
Não havia sacos de plástico. Havia sacos de papel pardo, embrulhos de papel e muitas, muitas guitas e cordéis.
O papel higiénico era um luxo. Aproveitavam-se os papeis de embrulho e os jornais que se cortavam em quadrados e se espetavam num gancho, dava mais trabalho, era menos higiénico, mas evitavam-se os desperdícios.
As crianças não tinham consolas, nem brinquedos sofisticados, mas havia as cinco pedrinhas, os pregos na praia, o jogo da bilharda, o jogo da pica, os arcos, as bolas de trapo, quando não havia dinheiro para as outras. Também não havia “Barbies” mas havia outras bonecas, umas caras outras baratas e até algumas feitas de trapos.
Não havia fogões eléctricos, eram de lenha, nem máquinas de lavar, nem micro-ondas, nem varinhas mágicas, era o “passe-vite”. Frigoríficos já havia, mas só nas casas mais ricas.
Não havia televisão, só telefonia que às vezes se percebia mal por causa dos ruídos e as crianças pensavam que o homem que lia as notícias estava dentro do aparelho e até a Lélé e o Zequinha dos “Diálogos Humorísticos”, embora ele, o Vasco Santana, fosse muito gordo. Também havia o Capitão Marques Pereira que dava aulas de ginástica que nós seguíamos religiosamente com acompanhamento de música e as cadeiras da sala como suporte.
Já havia telefones, mas eram poucos, o nosso era o 9 de Nelas e era difícil fazer as ligações, só através da menina que estava na central.
Telemóveis, computadores, Magalhães nas escolas, iPods, Bluetooth, GPS … nem pensar.
Nas escolas tínhamos sacas de serapilheira com um boneco estampado, onde transportávamos os livros, lousas de ardósia e cadernos de uma ou duas linhas e quadriculados, o livro de leitura com histórias lindas e poemas, o caderno de problemas e, na quarta classe, os livros de História, de Geografia e de Ciências. Para escrever usávamos lápis de lousa, lápis de carvão e canetas de aparo com o respectivo tinteiro. Esferográficas e canetas de feltro ainda não existiam.
Nunca ouvimos falar em dinossauros, nem em naves espaciais nem em extra-terrestres, mas sabíamos todos os rios e serras de Portugal e a tabuada na ponta da língua.
Quando eu era pequena faltavam muitas coisas que hoje há.
Mas as portas das casas estavam sempre abertas e havia sempre gente em casa. Nas casas ricas havia empregadas e nas pobres vizinhas. E, é claro, a Mãe estava sempre presente. Os avós também estavam lá em casa, tal como os bebés e as crianças pequenas. Não havia lares de terceira idade nem creches para os bebés.
Os Pais passavam muito tempo fora de casa porque iam trabalhar mas voltavam sempre para as refeições e para dormir.
As Mães só saíam para ir às compras ou para falar com as amigas. O trabalho delas era em casa.
As crianças não tinham medo que os Pais se separassem.
As crianças no meu tempo morriam mais embora parecessem mais resistentes. Havia poucos hospitais e poucos médicos mas os que havia eram muito dedicados e até iam a casa ver os meninos doentes. Meninos com olhos tortos e surdos havia bastantes porque só havia médicos especialistas nas grandes cidades. Também havia alguns meninos que nasciam deficientes.
Mas crianças com depressões ou hiperactivas ou com distúrbios de comportamento quase não se encontravam. Também não havia bullying nas escolas embora houvesse umas boas sopapadas e guerras de pedras, bolas de neve ou jactos de água. Quando muito, de vez em quando, havia uma cabeça partida.
Porque é que será tão difícil conjugar os bons hábitos de antigamente com as aquisições da modernidade de hoje?
A culpa deve ser nossa, dos antigos, que desprezámos as nossas experiências, que nos cegámos com as facilidades e nos inebriámos com a corrida do tempo.
“Os colchões Confort - Outro sono, outro conforto” fizeram-me pensar em tudo isto.
Será que algum dia viremos a ter outro sono, outro conforto, diferente do sono de hoje e com o conforto da modernidade e da sabedoria e experiência dos nossos Pais?
Não havia sacos de plástico. Havia sacos de papel pardo, embrulhos de papel e muitas, muitas guitas e cordéis.
O papel higiénico era um luxo. Aproveitavam-se os papeis de embrulho e os jornais que se cortavam em quadrados e se espetavam num gancho, dava mais trabalho, era menos higiénico, mas evitavam-se os desperdícios.
As crianças não tinham consolas, nem brinquedos sofisticados, mas havia as cinco pedrinhas, os pregos na praia, o jogo da bilharda, o jogo da pica, os arcos, as bolas de trapo, quando não havia dinheiro para as outras. Também não havia “Barbies” mas havia outras bonecas, umas caras outras baratas e até algumas feitas de trapos.
Não havia fogões eléctricos, eram de lenha, nem máquinas de lavar, nem micro-ondas, nem varinhas mágicas, era o “passe-vite”. Frigoríficos já havia, mas só nas casas mais ricas.
Não havia televisão, só telefonia que às vezes se percebia mal por causa dos ruídos e as crianças pensavam que o homem que lia as notícias estava dentro do aparelho e até a Lélé e o Zequinha dos “Diálogos Humorísticos”, embora ele, o Vasco Santana, fosse muito gordo. Também havia o Capitão Marques Pereira que dava aulas de ginástica que nós seguíamos religiosamente com acompanhamento de música e as cadeiras da sala como suporte.
Já havia telefones, mas eram poucos, o nosso era o 9 de Nelas e era difícil fazer as ligações, só através da menina que estava na central.
Telemóveis, computadores, Magalhães nas escolas, iPods, Bluetooth, GPS … nem pensar.
Nas escolas tínhamos sacas de serapilheira com um boneco estampado, onde transportávamos os livros, lousas de ardósia e cadernos de uma ou duas linhas e quadriculados, o livro de leitura com histórias lindas e poemas, o caderno de problemas e, na quarta classe, os livros de História, de Geografia e de Ciências. Para escrever usávamos lápis de lousa, lápis de carvão e canetas de aparo com o respectivo tinteiro. Esferográficas e canetas de feltro ainda não existiam.
Nunca ouvimos falar em dinossauros, nem em naves espaciais nem em extra-terrestres, mas sabíamos todos os rios e serras de Portugal e a tabuada na ponta da língua.
Quando eu era pequena faltavam muitas coisas que hoje há.
Mas as portas das casas estavam sempre abertas e havia sempre gente em casa. Nas casas ricas havia empregadas e nas pobres vizinhas. E, é claro, a Mãe estava sempre presente. Os avós também estavam lá em casa, tal como os bebés e as crianças pequenas. Não havia lares de terceira idade nem creches para os bebés.
Os Pais passavam muito tempo fora de casa porque iam trabalhar mas voltavam sempre para as refeições e para dormir.
As Mães só saíam para ir às compras ou para falar com as amigas. O trabalho delas era em casa.
As crianças não tinham medo que os Pais se separassem.
As crianças no meu tempo morriam mais embora parecessem mais resistentes. Havia poucos hospitais e poucos médicos mas os que havia eram muito dedicados e até iam a casa ver os meninos doentes. Meninos com olhos tortos e surdos havia bastantes porque só havia médicos especialistas nas grandes cidades. Também havia alguns meninos que nasciam deficientes.
Mas crianças com depressões ou hiperactivas ou com distúrbios de comportamento quase não se encontravam. Também não havia bullying nas escolas embora houvesse umas boas sopapadas e guerras de pedras, bolas de neve ou jactos de água. Quando muito, de vez em quando, havia uma cabeça partida.
Porque é que será tão difícil conjugar os bons hábitos de antigamente com as aquisições da modernidade de hoje?
A culpa deve ser nossa, dos antigos, que desprezámos as nossas experiências, que nos cegámos com as facilidades e nos inebriámos com a corrida do tempo.
“Os colchões Confort - Outro sono, outro conforto” fizeram-me pensar em tudo isto.
Será que algum dia viremos a ter outro sono, outro conforto, diferente do sono de hoje e com o conforto da modernidade e da sabedoria e experiência dos nossos Pais?
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Acidente de Percurso
Recebi ontem um e-mail "tout-court" da Editorial Leya: "... infelizmente cumpre-me informá-la que não nos é possível publicar as suas histórias/poemas."
Foi pena, mas em nada diminui o meu entusiasmo de continuar a escrever e querer publicar as minhas histórias/poemas para crianças.
Tenho a certeza de que o que escrevo lhes interessa, é útil, é educativo, é divertido e até melhor que muito do que vejo por aí publicado.
A verdade é que o meu público eleito são os netos, mas também é verdade que gostava de ver os meus escritos bem ilustrados e em letra de forma acessíveis a outras crianças.
Vou continuar a escrever, com entusiasmo, a aproveitar o meu tempo agora em flor, antes que chegue o outono e me acabe o tempo...
Foi pena, mas em nada diminui o meu entusiasmo de continuar a escrever e querer publicar as minhas histórias/poemas para crianças.
Tenho a certeza de que o que escrevo lhes interessa, é útil, é educativo, é divertido e até melhor que muito do que vejo por aí publicado.
A verdade é que o meu público eleito são os netos, mas também é verdade que gostava de ver os meus escritos bem ilustrados e em letra de forma acessíveis a outras crianças.
Vou continuar a escrever, com entusiasmo, a aproveitar o meu tempo agora em flor, antes que chegue o outono e me acabe o tempo...
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